Problemas com Dinheiro? Freud Explica!

Nota de dinheiro

O dinheiro é o cocô do mundo

Quanto você ganha por mês? Nossa! Que coisa íntima! Essa pergunta não se faz! Questione qual a minha posição sexual preferida, mas não me pergunte sobre dinheiro porque… sabe por que? O dinheiro é o cocô do mundo.

Dinheiro é sujo; dinheiro quando vem fácil, vai fácil; quem ganha dinheiro não tem tempo de gastá-lo, enfim… Muitas são as frases, as crenças, os mitos e as histórias, das mais antigas e variadas culturas, que intimamente relacionam o dinheiro à sujeira. Perguntar a alguém quanto ela ganha é o mesmo que querer saber o quanto ela é suja ou gosta da sujeira.

Freud explica em “Caráter e erotismo anal”, texto de 1908, que o ânus é uma zona erógena que, no decorrer da vida, pode perder essa sua “função”. Ao sublimar, por assim dizer, esse caráter erótico anal, surgem em nossa mente “formações reativas, ou contraforças, como a vergonha, a repugnância e a moralidade”.

Ao dividir a constituição psíquica humana em fases, Freud ensina que a fase anal – que coincide com o desfralde – é o momento em que a criança aprende a controlar não apenas os esfíncteres e as fezes, mas também os próprios desejos, transformando o cocô em moeda de troca.

Crianças, na fase anal, percebem que tanto fazer quanto saber segurar o cocô são coisas importantes para os pais. É preciso aprender a fazer as necessidades íntimas nos momentos certos, não em qualquer lugar nem a qualquer hora. Assim, a criança aprende que o cocô é algo valioso e usa esse seu conhecimento, de maneira inconsciente, para conseguir o que quer: o amor e o respeito dos pais e ou cuidadores. Há, portanto, um prazer tanto físico quanto psicológico em controlar as fezes a seu bel-prazer, fazendo destas as moedas que definem o que se dá e o que se recebe.

Ou seja, uma vez que o prazer de dar e receber amor e atenção dos cuidadores através da defecção perde sua serventia na idade adulta, tem-se a sublimação do erotismo anal que se transforma em ordem, parcimônia e obstinação em pessoas então possuidoras de um assim denominado “caráter anal”. São pessoas controladoras, avaras ou esbanjonas, demasiado limpas, neuróticas com a ordem e o asseio e definidamente cagadoras de regras.

“A limpeza, a ordem e a fidedignidade dão exatamente a impressão de uma formação reativa contra um interesse pela imundície perturbadora que não deveria pertencer ao corpo. (‘Sujeira é matéria no lugar errado’)”, diz Freud no referido texto. E some-se a isso a teoria fundadora da psicanálise que se baseia na ambiguidade das coisas, assim, tem-se um claro e ambivalente contraste entre a substância mais preciosa que o homem conheceu em sua vida, a matéria que saía de seu corpo e servira de troca de afeto, com a substância mais desprezível e inútil porque rejeito (lixo).

Para finalizar, façamos uma comparação do dinheiro com os afetos nos dias de hoje e perceberemos que, ao longo da história, o dinheiro foi ganhando cada vez mais o status de cocô do mundo. Por exemplo, dizem que dinheiro compra inclusive o amor, mas até que ponto isso é verdade? Fato é que o dinheiro é a única sensação de controle e de segurança que temos hoje na vida adulta. Compra-se o conforto, a vida boa, as amizades, a saúde e até a juventude. É como se disséssemos: “no dinheiro a gente confia!”

Dinheiro é tabu, é intimidade, é amor, é raiva, é afeto puro. E talvez por isso é tão difícil nos relacionarmos num mundo onde o dinheiro é o fator social mais importante, porque regula todas as relações. 

Quanto mais esse assunto nos parecer horrível, escatológico ou sem sentido, mais ainda será preciso falar sobre ele. Claro que cada caso é um caso, mas, geralmente, problemas com dinheiro têm a ver com pudor excessivo, desejos reprimidos, fantasias de controle, de repressão, de manipulação, vergonha… Freud explica!

Fonte:

FREUD, S. Caráter e erotismo anal (1908). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. IX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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