“Psicose do ChatGPT”: IA e o Colapso da Escuta

Psicose do ChatGPT

Parece que os filmes de ficção científica estão se tornando documentários. A era digitalizada e hiperconectada em que vivemos intensifica um fenômeno inquietante: a dissolução dos laços sociais e o enfraquecimento da palavra como mediadora da experiência humana. Em termos mais diretos: estamos vendo um aumento de subjetividades fragmentadas, ansiosas e, em alguns casos, delírios nascidos da solidão algoritmicamente cultivada.

Casos para ilustrar não faltam. Segundo o site Futurism, um número crescente de pessoas tem desenvolvido delírios e colapsos nervosos após interações intensas com chatbots como o ChatGPT e o Copilot. Em um dos casos relatados, um homem que buscava ajuda para um projeto passou a acreditar que havia criado uma IA consciente e quebrado as leis da física.

Outros casos reportados incluem uma mulher que se declarou profetisa e um homem que iniciou um relacionamento afetivo com um chatbot. Um outro exemplo vem da Folha de S.Paulo, e conta o caso de um americano de 42 anos que sofreu um colapso mental após longas conversas com o ChatGPT, nas quais ele discutia teorias da simulação e realidades alternativas. A conversa perigosa, que o teria levado a “voar” de um prédio, começou depois de o homem ter passado por um longo período de vulnerabilidade emocional.

O Tiro que Saiu pela Culatra

Inicialmente usado como uma ferramenta de produtividade, o chatbot passou a servir mais como psicoterapia. Em 2025, o uso da inteligência artificial como suporte emocional explodiu, tornando-se uma das aplicações mais populares da IA generativa, segundo um estudo da Filtered publicado na Harvard Business Review. Ferramentas como o ChatGPT são cada vez mais utilizadas como substitutos de psicoterapeutas, especialmente por serem gratuitas, disponíveis 24 horas, sem julgamentos, com muita validação e elogios.

Eis aí o perigo. Ao tentar agradar os usuários, esses sistemas podem alimentar ideias perigosas, especialmente em pessoas sozinhas ou emocionalmente frágeis.

A internet, as redes sociais e todas as ferramentas digitais das quais dispomos hoje, e que um dia foram promessas de uma vida melhor, com menos trabalho e mais interação social, acabaram por se revelar o grande tiro que saiu pela culatra. O que mais se vê por aí são pessoas cada vez mais sozinhas e com mais dificuldade de interagir. As redes sociais e as chatbots acabaram por fomentar as famosas bolhas, com cada um no seu quadrado, segmentado, ou com seu espelho narcísico que responde sempre no nível do: você é a pica das galáxias!

Quem já usou chatbots sabe como é: não faltam bajulação e elogios em cada frase trocada. Imaginem o dano que isso já está fazendo numa população ansiosa, deprimida e amedrontada… e no que ainda fará…

IA, Algoritmos e a Nova Constituição do Sujeito

Como isso pode chegar na clínica psicanalítica? Como alguém teria coragem de dizer que teria fórmulas mágicas que mudariam as leis da física, sem correr o risco de ser interrogado sobre seu estado de saúde mental? Melhor falar com os robôs que, sendo mais inteligentes que nós, seriam os únicos a nos compreender.  Infelizmente, muita gente pode pensar assim, sobretudo quando a própria sociedade fomenta o narcisismo, o egoísmo e o não compartilhar das ideias, para que ninguém as roube…

Isso, e tantas outras questões, explicam o sucesso das chatbots como psicoterapeutas. E histórias como estas estão apenas começando. Esses sistemas, ao concordarem com tudo o que o usuário diz, podem aprofundar estados mentais instáveis, incentivar delírios e alimentar uma confiança excessiva na IA — o que pode ser muito perigoso tanto para o sujeito, quanto para a sociedade.

Pensando nesse sintoma contemporâneo, o Instituto La Lettre propõe um novo curso: Escutas em Ruído: Psicanálise Frente à Crise da Palavra e do Laço Social.

No módulo 2 “IA, Algoritmos e a Nova Constituição do Sujeito: como a tecnologia e a lógica algorítmica reconfiguram os modos de existir?”, o curso abordará as transformações da subjetividade na era digital e suas implicações na clínica. Serão discutidos os efeitos da hiperconectividade, da lógica da repetição e do consumo sobre o desejo e o laço social.

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