Stalking é transtorno mental?

Um caso recente chamou a atenção nas mídias e redes sociais no Brasil. Uma moça jovem e bonita foi presa por stalking. Abismado com a notícia, o público se pergunta: como é possível alguém chegar ao ponto de “enlouquecer” por amor? Somado a esse caso, tem-se o sucesso de uma série na Netflix (Bebê Rena) que trata do mesmo assunto. O sucesso da série e o bafafá do caso brasileiro nos mostra que stakear (perseguir) é uma atitude muito comum na sociedade digital, onde todos têm acesso a tudo, e a privacidade da vida é algo praticamente impossível.

Mas vamos ao caso: Kawara Welch, uma mineira de 23 anos, acumulou entre 2021 e 2023, 12 passagens pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) por assédio, importunação, roubo e descumprimento de medidas protetivas. Ela chegou a ser presa preventivamente em maio de 2023 após perseguir um médico e sua família em Ituiutaba, Minas Gerais.

Kawara, que se apresenta como artista plástica e modelo nas redes sociais, esteve foragida por mais de um ano antes de sua atual detenção, que ocorreu neste mês de maio. A moça acumula em sua história 42 boletins de ocorrência. Em apenas um dia, ela chegou a ligar 500 vezes e enviar 1,3 mil mensagens para o médico pelo qual se apaixonou em 2019, enquanto era por ele tratada por problemas de depressão.

Caso de Polícia

Antes de tudo, devemos dizer que stalking é um crime, um caso de polícia, e não uma condição psiquiátrica ou um transtorno psíquico. Nada nos impede porém, de imaginar que o termo possa vir a fazer parte da lista dos transtornos mentais (DSM).

Algo como “transtorno da personalidade stalker” pode um dia vir a ser considerado, dentro da tendência de patologização que percebemos na sociadade atual.

Por enquanto, o que temos são casos policiais de pessoas que perseguem outras causando danos psicológicos e traumas de natureza grave, e até mesmo a morte, pois as perseguições podem levar a vítima, culposa ou dolosamente, ao óbito.

Enquanto ação que causa danos físicos e ou morais, o stalking  passou a ser considerado crime no Brasil em março de 2021, com penas previstas de 6 meses a 2 anos de reclusão e multa.

Caso de Psiquiatria?

Enlouquecer de amor, na linguagem popular, pode ser uma coisa deliciosa do auge da paixão, onde o um e o outro se unem em uma só pessoa, representando inclusive uma das maiores felicidades que o ser humano pode experimentar. No entanto, a “loucura” pode mesmo ser um caso psíquico quando crimes como stalking, feminicídio, homicídio, lesões corporais, difamação, calúnia, etc, resultam de um caso de amor que acabou mal, mas cujo término poderia ter sido aceito – com tristeza naturalmente – mas aceito.

Não dá para saber se casos de amor que terminam em crime são casos psiquiátricos, quadros psicóticos, transtornos mentais, etc. Cada caso é um caso e não podemos dar opiniões baseados em notícias de jornal. Sem acesso ao processo, fica impossível dar qualquer parecer, seja do ponto de vista jurídico que psicológico.

Erotomania

De fora, muita gente acredita que houve sim um caso de amor entre a jovem e o médico, mas mesmo que tivesse havido, isso não justificaria a perseguição absurda descrita no caso.

Existe um transtorno mental chamado Erotomania, caracterizado pela manifestação de um sentimento obsessivo, de uma paixão descontrolada e delirante por uma pessoa, geralmente de destaque social ou celebridade.

Se esse é o caso de Kawara, não sabemos. O fato interessante a se notar é o quanto nossa sociedade predispõe as pessoas a esse tipo de situação.

De um lado tem-se uma vida surreal (acima do real) mostrada nas redes sociais. De outro, tem-se uma sociedade que não aceita um não como resposta, que não aceita uma frustração e que não aceita a diferença.

São novos tempos que implicam em novos problemas, novas doenças, novos sintomas, novas angústias.

Talvez, a “doença” não seja pessoal, específica da Kawara ou de qualquer outro caso particular de bullying, perseguição, feminicídio, racismo, etc. A doença, em todos esses casos, é social. Tem alguma coisa que não está funcionando bem no organismo social que desenvolvemos. É para essa doença comum que precisamos olhar. O que você acha disso?

Fontes: Correio de Brasília e G1

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